OLHAR URBANO
Macapá-AP, 29 de abril de 2010.
Querida Ana Girlene.
Escutei o programa do dia 27 e anotei o seu pedido, onde você solicitava que os especialistas na área de segurança pública se manifestassem sobre a onda de violência no Amapá, com 14 mortes em um só fim de semana.
Como ESPECIALISTA EM GESTÃO ESTRATÉGICA EM DEFESA SOCIAL, quero me manifestar, como cidadão, para contribuir. Assim – se cada cidadão fizer sua parte – certamente poderemos reduzir tanta insegurança por conta do avanço da onda de violência na nossa sociedade.
Quero partir dos ensinamentos deixados pelo estudioso dos problemas que afetavam a sociedade de sua época chamado Èmile Durkhaim que assegurou que a sociedade se deteriora quando as amarras que resguardam as atitudes dos cidadãos – ou seja os valores sociais – deixam de servir de norte para manter a sociedade sadia e coesa.
A partir, daí observamos que a sociedade atual está sofrendo dessa anomalia quando os valores sociais como a ética, a honestidade a solidariedade e o respeito ao próximo, ou seja, a vida, estão todos deteriorados. Mensurado por mensalões e mortes nos hospitais.
Não vamos longe para perceber – e a sociedade percebe – que esses valores sociais não estão mais sendo cultivados no seio dela, dando uma sensação de que é careta ser ético, ser honesto...agir como cidadão ético.
Como exemplo, podemos citar o caso emblemático, envolvendo o banqueiro Daniel Dantas – homem rico e poderoso – que foi solto em duas decisões históricas (nunca visto na justiça brasileira pela celeridade das decisões) e o delegado Protógenes Queiroz (delegado responsável pela apuração em inquérito policial do envolvimento dele em ações criminosas) tanto que foi condenado pela justiça, VIROU VILÃO, RESPONDEU INQUÉRITO E QUASE FOI EXPULSO DA PF. E COMO ELE O JUIZ DO CASO...
Ainda mais, como conseqüência, houve uma decisão descarada do STF, abolindo o uso de algemas nas prisões, indo de encontro com as práticas da PF que tinham como objetivo resguardar a segurança dos PFs nos momentos dessas prisões. Num desrespeito latente a todos os profissionais da área, por tratá-los como despreparados e inconseqüentes no uso de um apetrecho essencial para a segurança do trabalho policial.
Quando as prisões e as algemas eram usadas apenas nos pobres, pretos e prostitutas e apenas essas pessoas eram presas, o STF, ficava indiferente, mesmo sabendo de tantas situações delicadas que deveriam, no mínimo, ser analisadas e debatidas, caso esses cidadãos fossem tratados com respeito e seus direitos de cidadãos, como dignidade durante as prisões, fossem preservados.
Assim são as decisões de algumas instituições que teriam o dever ético de demonstrar imparcialidade e ética, fortalecendo os valores sociais e todas as instituições envolvidas.
E no Amapá é tudo a mesma coisa. As instituições desrespeitam os cidadãos e eles não têm a quem recorrer. Impera a parcialidade, a corrupção, a impunidade, a mentira.... São desrespeitos na maioria dos órgãos públicos, que tem o dever de respeitar os direitos dos cidadãos e cidadãs. São nos hospitais na busca por um atendimento médico; na busca por uma vaga nas escolas; por um lugar nos transportes públicos; nos caixas dos bancos oficiais; dos direitos humanos nas penitenciárias. etc. Por fim, é um desrespeito generalizado, onde quer que o cidadão procure apoio com respeito, e por instituições que tem o dever ético de resguardar e enaltecer o respeito a cidadania.
Assim, desrespeitado em todos esses locais por falta de ética nas instituições sociais, não resta outra forma de agir se não for também com falta de ética, e como conseqüência, ignorando as normas e os bons costumes, generalizando seu pensar em ações e reações sem levar em mérito os valores sociais que mantêm a sociedade sadia.
A sociedade está num mar de lamas, que vai da falta de ética, passa pela corrupção generalizada e chega ao descrédito aos agentes públicos, por seus envolvimentos a má condução da coisa pública, gerando uma sensação de descrédito também generalizado.
Aí o caos, consubstanciado na falta de credibilidade e de esperança, se instala na sociedade, passando o homem, a agir por instinto de sobrevivência, aos moldes dos dizeres que assevera “que o homem é o lobo do homem” e noutros baseados nos ensinamentos, também de estudiosos dos problemas sociais, Russeou e Thomas Hobbes, para entender o caos e a violência generalizada nas sociedades modernas.
TCel CORRÊA
ESPECIALISTA EM GESTÃO ESTRATÉGICA EM DEFESA SOCIAL
30 ANOS DE SERVIÇO NA PMAP.