OLHAR URBANO
O SABIÁ E A SEMENTE
Por: Neca Machado
Para Alcyr Guimarães - PA
Este Sabiá madrugador
Transpôs:
Janelas, portais, mares, e rios,
Voou distante, tão longe.
Quebrou e rompeu desafios.
E com o sol das manhãs,
Desceu na minha janela.
Que visão mais bela
E pueril.
E me trouxe a SEMENTE
Da vida,
Da luz,
Da esperança,
E de uma saudade.
Este SABIÁ,
Que tem cheiro de CIO.
Veio ao som dos batuques,
Com o cheiro das açucenas,
De abril,
Com o embalo das morenas
Com a reza das novenas,
Dos Campos do Laguinho,
Com o cheiro das mangas maduras
Da safra de Dezembro
Sutil.
Este SABIÁ!
Com a cor do sol
Do Equador tropical,
Do Equinócio das águas,
É o SABIÁ do amor,
Desta Nega Fulô.
Sua SEMENTE,
Tem nome de flor,
De desejo,
De cheiro de Mato,
De orvalho molhado,
É sua Nega Fulo.
Sua SEMENTE,
Tem cheiro de CIO,
Provoca arrepio,
É puro desafio.
Excita por assovio.
Sua SEMENTE,
Brota em solo
Floreal,
Juvenil,
Febril.
Sua SEMENTE ama este SABIÁ,
Que lembra do mar,
Das marés,
Das ondas senhoras,
E da mansidão dos igarapés.
Este SABIÁ é Senhor,
Das vontades,
Saudades,
Desejos contidos,
Escondidos,
E seu canto
Deságua,
Entranha,
Desbrava,
Arranha
E passeia na teia
Desta pobre aranha.
E seu grito vem,
Como a Pororoca,
Sem medo,
Destruindo,
Consumindo,
Sorrindo,
E se vai...
E sua SEMENTE,
Sobrevive
A mais este ai.
Sua SEMENTE vive,
Se desnuda,
Desabrocha
Numa fenda da rocha,
Feito um cristal.
Sua SEMENTE,
Resiste, persiste,
Ao tempo,
A saudade,
As lembranças,
A dor,
A desesperança,
E de sua janela
Insiste em brotar.
Sua SEMENTE,
O quer,
Quer sol,
Água,
Orvalho molhado,
Quer seu sorriso encantado,
Quer seus braços estendidos,
Afago de sua mão,
Quer seu cheiro de cio,
Quer somente
Um pedaço do seu coração.
Sua SEMENTE cresce,
Brota viçosa,
Ergue-se pelas manhãs
Preguiçosa.
Torna-se frondosa.
E se estende pelos cantos
Deixando um encanto no ar.
No recanto de uma saudade.
Olhando frestas sobre florestas.
Ergue-se sobre mares,
Lugares,
Busca um caminho,
Um porto seguro,
Neste escuro.
Deste SABIÁ.
Sua SEMENTE,
Banha-se,
Com água de poço, (Poço do Mato)
Revela seus segredos à mãe do rio,
Sente arrepios.
Conhece segredos de uma magia
Lança-se sobre janelas imaginarias,
Em busca de seu SABIÁ.
Sua SEMENTE faz versos,
Mostra reversos
Tem sonhos,
Sente cheiro de saudade
Do seu SABIÁ.
Este SABIÁ
Da cor divinal, celestial,
Angelical,
Tão natural,
Com sabor do açaí, de cupuaçu,
De bacuri...
Tão animal.
Com seu canto irracional.
Que pousa atrevido na minha janela,
No meu sofrimento,
No meu quintal.
Este SABIÁ é gente,
Tem pensamentos,
É generoso,
Doce,
Torna-se degustativo.
E sua SEMENTE
Tem incertezas,
Lamenta,
E faz sonetos,
Nas entrelinhas
Ponteia
Norteia,
Vagueia,
E fita seus olhos de mel,
Contemplativos,
No seu SABIÁ.
Que entre janelas ao vento,
Portais e murais,
Lagos, florestas e igarapés,
Teima em voar.
E sua SEMENTE,
Se cobre
De lagrimas,
De mantos de santos,
De encantos
E desejos,
Viajando em canções
Que a fazem lembrar do seu SABIÁ. (lê, lê, lê.........)
E sua SEMENTE
Viaja
Devagarzinho
Por um mar acima, e um mar abaixo,
Como um menino, menina...
Que abriu os olhos
Pelas frestas de uma janela
Esperando um presente de Natal.
E este SABIÁ
Viajante,
Andante
Errante,
Torna-se distante,
Do seu penar.
Mas na seiva desta SEMENTE
Que insiste
Em sobreviver
Em plagas tucujus,
Sua imagem a faz florir.
Crescer,
E fazer
Novas sementes
Para este amor
Se eternizar.
Sem amarras,
Mordaças,
“Então tá SABIÁ!”
E da minha janela,
Eu vi Bem-te vis,...uirapurus...
Vi chuva de inverno
Imaginei janelas ao vento
E quase cheguei ao céu.
Não fui leviana
Somente insana.
Buscando uma canção
Pra me confortar.
“Então ta SABIÁ”, (lê, lê, lêlê........)
ESTE CANTO FICOU SOMENTE NO PAPEL.
Com a bela lembrança de um SABIÁ.
Chamado ALÇYR.