
OLHAR URBANO
O monumento, criado pelo americano de origem judaica Peter Eisenman, está situado a poucos metros da antiga chancelaria de Hitler e do bunker no qual o líder nazi cometeu suicídio, no dia 30 de abril de 1945.
Com 95 centímetros de largura e 2,38 metros de comprimento, os blocos têm alturas variadas de até 4,7 metros e ficam separados por 95 centímetros, formando um grande labirinto.
Sob os blocos, há uma galeria com fotos, nomes e destino das vítimas do holocausto, mas qualquer visitante precisaria de seis anos e sete meses para ler tudo o que está lá.
Foram 17 anos de críticas, debates, escândalos e concessões ao que o mainstream político permitiu. O resultado é um lugar construído, quase um não-lugar, uma lembrança dedicada aos judeus assassinados e não um registro das barbaridades em si.
Em 90 mil metros quadrados, 2711 colunas. A cor, o cinza escuro. A referência automática, um cemitério, mesmo que esta associação seja revidada por Eisenman. "A simplicidade é talvez o que provoca", assinala o arquiteto.
Personificação do horror
Memorial do HolocaustoNo subterrâneo, ao qual se chega através de uma escada que se encontra quase "de repente", o Centro de Informações. Nenhuma placa, nenhuma indicação. Na entrada, seis rostos, com nomes e origem, personificam de forma direta a morte dos seis milhões de judeus. As cores: preto, branco e cinza. São quatro espaços quadrados.
"É um grito silencioso no espaço climatizado. As imagens são relativamente pequenas, há poucos registros das montanhas de cadáveres, quase nada do horror das câmaras de gás, dos tiros, dos espancamentos, enforcamentos, torturas até a morte. À abstração do Memorial corresponde uma certa decência da documentação", observa o diário Der Tagesspiegel.
Um banco de dados dispõe cerca de 700 biografias, uma amostra do total de seis milhões de vítimas da Shoa. A partir do momento em que estes indivíduos, com seus nomes e dados biográficos – idade, profissão, estado civil e condições em que morreram – são extraídos do todo, o visitante se vê confrontado com histórias individuais, pessoais. "As biografias foram escolhidas ao acaso, mas respeitam um certo sistema. Elas espelham a estrutura das nacionalidades das vítimas judias. Isso significa que metade das biografias ali apresentadas é de judeus poloneses", conta o historiador Jürgen Lillteicher, responsável pela escolha.
Dimensões da memória
Para o visitante que circula entre as colunas e depois desce "aos porões", a existência do Memorial provoca, como descreve o diário Der Tagesspiegel, "uma pequena viagem: do nós até o eu. Visto de fora, o Memorial é dominado pela massa pura, por suas dimensões, pela amplitude do campo de colunas em cinza escuro. Neste momento, a percepção tende a ser coletiva, abstrata, geral – não importa se gostando ou não da arquitetura de Eisenman. Dentro, o indivíduo entra em contato com as lembranças individuais".