OLHAR URBANO
Macapá-AP, 03 de fevereiro de 2010.
Neca Machado.
Com formação e especialização da área de segurança pública (ESPECIALISTA EM GESTÃO ESTRATÉGICA EM DEFESA SOCIAL/UFPA) não posso ficar apenas prendendo infratores e achar que a minha missão está sendo cumprida a contento. Apenas com essa visão estaria sendo um profissional ainda meio amador. Não posso apenas ficar salvando os que se lançam do precipício (administrando apenas as consequências) deixando de contribuir para amparar os suicidas ainda no momento da decisão de pular (agir nas causas da violência).
E é com essa vontade de contribuir com os problemas em sua gênese que quero tocar numa causa de violência (que também tem outro viés) que é a falta de geração de empregos lícitos para pais de família e para muitos jovens que a cada ano estão aptos para o mercado de trabalho.
Essas pessoas precisam de cidadania e cidadania só de dá de tiver pelo menos uma fonte de renda lícita para suprir suas necessidades mais urgentes (alimentação - ninguém vive sem comer e vai morrer; vestuário - se alguém for encontrado pela polícia na rua, nu, será preso por atentado violento ao pudor).
Duvido você que vai ler este apelo viver sem dinheiro?! Principalmente se tem um filho para criar. Porque até filho (falta de pagamento de pensão alimentícia - que é paga com dinheiro) leva o pai para a cadeia. Já vi vários devedores de pensão (e alguns desempregados) parar na cadeia. E um deles me confessou: "eu não tenho como pagar só se for roubar".
Este é o retrato da falta de empregos no Amapá.
E, na contramão da dor e do desespero desse e de muitas pessoas que lhes faltam cidadania, li numa reportagem de um jornal local (parece que a reportagem estav a para divulgar boas ações do poder público) reportando sobre o fechamento de várias lavagens de carro pela cidade.
Dizia a reportagem que estavam todas irregulares (até concordo) mas não concordo em fechá-las. Ainda sob a acusação de o dono (por contratar pessoas irregularmente; de poluir o meio ambiente, etc) e seus trabalhadores (por serem crianças e adolescentes - mas não proporcionam a seus pais, muitas vezes, as condições básicas para criar essas crianças e jovens com dignidade - se é que um lavador de carros não pode ter dignidade) serem criminosos.
Fechá-las é ato muito extremo. Pode ser um incremento a mais para o aumento da violência. Aliás, o próprio fechamento já é um ato de violência. Um ato insensato do poder público que ao contrário, deveria somar com esses geradores de emprego lícito, mesmo que seja insalubre, mas é melhor trabalhar assim, do que ser um traficante ou um aviãozinho de drogas ilícita s.
Seria mais relevante para a sociedade se o poder público pudesse incrementar mais um, mais esse, empreendimento que gera emprego e renda para centenas de pessoas (pais e filhos de família) com empréstimos; informações técnicas (cursos de formação); informações sobre a preservação ambiental (utilização de desinfetantes, sabão, água, etc) e a legalização do empreendimento (com taxas promocionais, incentivos fiscais, impostos reduzidos, etc) para essas pessoas passem de bandidos e criminosos para empresários geradores de empregos lícitos e seus empregados se sintam incluídos no meio social com um emprego que lhes dê dignidade e não sejam excluídos e jogados na rua da amargura, simplesmente porque queriam trabalhar - sem muitas vezes outras oportunidades, e buscar seu dinheiro lícito (resultado de seu suor) para suprir suas necessidades e de seus familiares (até mesmo dos pais e mães desempregados ou já sem forças e possibilidades de prover seu sustento e de sua prole).
Posso prender, e assim estaria agindo como profissional - a serviço do Estado - aqueles que conscientemente praticam um crime (corruptos, colarinho branco, etc), mas que não estão marginalizados e que o Estado dá todas as possibilidades de ser um cidadão honesto. E, não posso prender, e dizer que sou um profissional, se prender apenas os marginalizados, e o pior, que o próprio Estado os marginalizou!
TCel CORRÊA
Especialista em Gestão Estratégica em Defesa Social/UFPA.