OLHAR URBANO
LIVRO DA NECA MACHADO
A SER PUBLICADO QUANDO EU TIVER DINHEIRO
Sem apoio de nenhuma autoridade da cultura tucuju, me vejo apesar de contrariada a socializar o MEU LIVRO com meu caros leitores, em breve depois de economizar ou talvez vender minha casa, eu o publique.
NECA MACHADO
MITOLOGIA AMAPAENSE
CONTOS E OUTROS CONTOS TUCUJUS
AMAPÁ
Copyrigth @ 2009 by Neca Machado
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Por: Neca Machado
Endereço: Avenida Mãe Luzia, 268 – Laguinho
Macapá – Amapá – Brasil.
CEP. 68.908.150
MEMORIAL POÇO DO MATO
Contatos com a Autora;
e.mail: necamachado@hotmail.com
Blog. Necamachado.blogspot.com
“Os textos deste exemplar reproduzem integralmente estórias originais do imaginário popular do Estado do Amapá, e refletem o ponto de vista de pioneiros amapaenses, recontados pela autora.”
NECA POR NECA MACHADO
Considero-me uma amapaense Bairrista por amar minha raiz, nasci em 05 de agosto de 1961, na cidade de Macapá, estado do Amapá. (Estou desencarnando...)
Os antigos cablocos tinham por habito olhar no calendário ao registrar seus filhos o dia do santo. E lá fui eu batizada com o nome de Nossa Senhora das Neves, Chamo-me então Neves Maria Machado, aos pouco minha mãe soberba com uma menina negra de olhos da cor de mel, chamou em sua ousadia de boneca, com o passar dos anos restou NECA, assumi o pseudônimo de NECA MACHADO.
Sou irrequieta, não me contentei com a miséria e nem com a ignorância, não tenho o habito de ter MEDO, considero-me CORAJOSA. Busquei conhecer a administração e em Belém do Pará formei-me em bacharel em administração de empresas geral, depois licenciei-me plena em pedagogia pela Universidade Federal do Amapá, sou especialista em educação com base tecnológica pela Faculdade Seama em parceria com a Secretaria de Educação do Amapá, sou pós graduada em ensino profissionalizante e com a mesma inquietude de amar a historia do Poço do Mato, fui a academia mais uma vez especializar-me em Direito Ambiental.
Incomodei muitos medíocres ao tornar-me jornalista colaboradora com mais de 2000 (duas mil) publicações entre artigos, contos, e crônicas.
Depois de mais de quarenta anos deixei a Igreja católica para acreditar no espiritismo, considero-me uma mulher alem do normal, tenho uma sensibilidade à flor da pele, muitas habilidades, mas não sou especial, sou alguém com algo sobrenatural, e por isso deixarei as futuras gerações um pouco de minhas habilidades, quer nas artes plásticas, quer na literatura.
Simplesmente! Neca por Neca Machado
Em; Março de 2009.
MITOLOGIA AMAPAENSE
Estórias recontadas por Neca Machado
Mitologia Amapaense é uma coletânea de conversas com PIONEIROS residentes no Estado do Amapá, recolhidas ao longo de mais de vinte anos, onde aprendemos somente a escutar estórias, que fizeram parte de nossa infância, vividas no bairro do Laguinho, reduto de manifestações culturais expressivas, misturando lembranças de uma geração em que a importância das historias contadas por minha avó Dona Leopoldina Machado perpetuou dentro de mim, um sentimento de bairrismo com nossa raiz afrodescendente para dividirmos com as futuras gerações que não conhecem a historia do Amapá.
Tomamos um amor especial por um tema onde o POÇO DO MATO, é central, ele fica localizado no coração do bairro do Laguinho, no meio da Avenida Padre Manoel da Nóbrega, no centro da cidade de Macapá, entre as ruas: General Rondon e São José, e foi declarado Monumento de interesse cultural do Estado do Amapá, através do Projeto de Lei nº 037/93, da Câmara de Vereadores do Município de Macapá.
O POÇO DO MATO possui importância impar para o povo amapaense, foi tema de samba enredo da Escola Jardim Felicidade no ano de 2007, por indicação do carnavalesco Carlos Pirú, e teve como samba enredo o titulo: “Poço do Mato, águas laguinenses que banharam o meu corpo e saciaram minha sede.” Era um cenário de um meio ambiente cultural até a década de setenta dos mais belos no entorno da área de ressaca do Laguinho. Pela crendice popular, em sua área de densa floresta, povoavam mitos e lendas, onde o cenário de medo predominava, com seres inimagináveis, assombrações e personagens folclóricos que se misturavam num espetáculo de magia e encantamento que fizeram parte da infância de muita gente no Amapá. Hoje totalmente desaparecido por sucessivas invasões.
Uma das principais personagens referenciais do POÇO DO MATO, foi o executor da obra que fazia parte do desenvolvimento da antiga Companhia de Água do Amapá, era o português ANTONIO PEREIRA DA COSTA, nascido em Vila Nova de Gaia-Porto-Portugal a 17 de fevereiro de 1901, e falecido em Macapá a 03 de julho de 1983.
AGRADECIMENTOS
Peço desculpas às crianças por elaborar uma coletânea dedicada às lembranças de uma amapaense saudosista, e as pessoas grandes, as memórias de PIONEIROS que esquecidos pelo poder público, e em conversas de “pé de ouvido” contaram-me preciosidades debruçando-se sobre o passado num misto de saudade e lirismo.
Dedico este exemplar a memória de IZABEL MACHADO, heroína das Ilhas paraenses, desbravadora, e MINHA MÃE, a Carlos Pirú carnavalesco e autor de uma das mais belas canções a mim ofertadas com o tema POÇO DO MATO, ao Desembargador Gilberto de Paula Pinheiro, um Caboco que aprendi a amar, a Juíza Sueli Pini, pela determinação com a justiça ambiental do Amapá, ao amor de um cidadão alemão MANFRED FRIEDERICH HAASE.
Para Afonso Medeiros professor da Universidade Federal do Pará, Mestre em Arte-Educação e Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, “A maior lição da modernidade, desde a Renascença, tem sido a experimentação com a linguagem escrita, quem aumenta um ponto distorce as características de um dado personagem, o CONTO é breve, economiza conflitos nos personagens e no tempo, o CONTO na definição dos dicionários é uma narrativa breve, e concisa, contendo um só conflito, uma única ação, é um relato intencionalmente falso e enganoso, mentira...” (Houaiss, 2001)
POÇO DO MATO
SAGA DE UMA MEMORIA
“Muitos vão à academia para buscar conhecimentos científicos e posteriormente elaborar um trabalho de conclusão de curso. Eu não retornei a academia em busca de um tema, porem, retornamos ao conhecimento cientifico pelo POÇO DO MATO, para conhecer o ordenamento jurídico referencial ao meio ambiente em que ele estava inserido, e nos especializamos em Direito Ambiental”
(Neca Machado – 2008)
ESPERANÇA
Neca Machado - 2008
Muitas vezes nos debruçamos sobre essa tal esperança
De acreditar
Em mudanças
Rumos
Ações
Passos
Compassos
Mutações
Transformações
Em orações
E nos deparamos com a podridão
Do coração
Das mãos
Da derme
Das mente
Dos dementes
Dos tementes
Dos insanos
Não Hermanos.
E mais uma vez acreditamos nessa tal esperança
De vir
Do porvir
Do servir
Do engolir
Do fugir
Do parir
E na esperança buscamos um caminho
Sem rumo
Sem prumo
Sem vento
Sem vela
Onda
Desanda
Desnuda
Na rua
E lá no fundo da alma ela surge de novo
Sorrateira
Rasteira
Brejeira
Caminheira
Como uma fortaleza
No horizonte
Nos montes
Nas nuvens
Na chuva
Nas flores
Nas águas
Nas marés
Nos igarapés
Sobre os meus pés
E continuo a sonhar com essa tal esperança
Sem querer acordar.
Que muitas vezes traz desesperança
Mas furtiva reacende
Transcende
Se funde
Confunde
Refunde
Reluz
Traduz
Sua luz
Chamada de
ESPERANÇA!
ESPERANÇA
TRIBUTO AO POÇO DO MATO
I
Das entranhas da mata
Sangra tua vida, brota da Terra.
O suor de tua alma.
Oh! POÇO DO MATO
Mata minha sede
Mata os olhares de Negros piedosos,
E lava a alma e a pele
Dos pescadores,
Do Igarapé das Mulheres descalças
Desnudas e sofridas.
Oh! Meu POÇO DO MATO,
Banha seus pés,
A eles que se rendem
As suas dores.
Mulheres negras com potes
Em cabeças sofridas,
Es tu oh! POÇO DO MATO.
Acalanto e encanto
Para suas vidas.
TRIBUTO AO POÇO DO MATO
II
Oh! Meu Poço do Mato
O martelar no prego
Nas mãos de um ingrato invasor
Que destruiu e destrói teu manancial
E tua história continuamente
Pelo descaso de nossas autoridades,
Dói-me a alma, rasga-me o peito.
Sangra-me a carne.
Escurece-me o olhar.
Oh! Meu POÇO DO MATO
No seu entorno desapareceu tua mata,
E sobre as palafitas desordenadas
Sumiram tuas águas cristalinas.
E os velhos PIONEIROS do Laguinho,
Sedentos de lembranças clamam por um resgate,
Clamam por teu destino,
Clamam por teu projeto esquecido
Em uma gaveta qualquer...
E pedem ao Deus da Mata
Em noite de orações,
Punição para os seus invasores
E encantamento pela Mãe da Floresta
Para suas vidas.
POÇO DO MATO – SAMBA ENREDO
MOCIDADE INDEPENDENTE JARDIM FELICIDADE – CARNAVAL 2007.
“AGUAS LAGUINENSES QUE BANHARAM MEU CORPO E SACIARAM MINHA SEDE”
Compositor: CARLOS PIRÚ
Lalalaia Laia vai Mocidade.
POÇO DO MATO, é Laguinho, é historia,
Enredo que balança minha escola!
Século passado
Amapá Território Federal
Vida nova para o povo
Era preciso sanear a capital.
Lá no Laguinho rufa o tambor
Água brota desse chão
Se constrói o POÇO DO MATO,
Obra de divina inspiração
Desbrava a rua encanador
E o progresso vem pela tubulação.
Água encanada chegou, deixa jorrar.
Banhar meu corpo, vem minha sede saciar.
Água encanada chegou deixa jorrar
É festa e alegria está no ar.
Ah! POÇO DO MATO a tua existência
Se confunde com o Laguinho
Era lá que os meninos passarinhavam
E despertavam a imaginação,
Misticismo, contos e estórias.
Agora é só recordação,
Com arte, perseverança e fé.
Te tornaram imortal
Na musica e poesia.
E num singular MEMORIAL.
(Memorial Poço do Mato, acervo Neca Machado)
TRIBUTO A PEROLA NEGRA
PIEDADE VIDEIRA
O Batuque que pulsa no olha dessa Negra.
É um batuque de sedução
O batuque que pulsa no olhar
É PIEDADE,
Piedade Senhor!
Peço remissão.
O batuque é raiz de uma raça contida
Que ela trás serena no olhar.
Peço PIEDADE por meus pecados
Piedade Senhor,
Piedade Senhor...
O Batuque vem de lá.
O batuque vem de lá
Vem de tão longe,
Vem de alem mar.
E as águas num vai e vem
Mar acima, MAR ABAIXO...
Trouxe esta negra
De tão longe, só pra nos encantar.
E eu volto a pedir Piedade,
Piedade Senhor,
Piedade Senhor,
E eu volto a pedir
Piedade,
Piedade SENHOR,
Piedade Senhor....
Pra onde tu vais rapaz
Por este caminho sozinho
Vou fazer minha morada
Lá nos campos do Laguinho...
OS ENCANTOS DO POÇO DO MATO
A lata de manteiga bem ariada, é instrumento de trabalho de Nega Piedade, rebolando as cadeiras ela desce preguiçosa e com ares de princesa de ébano as ladeiras que circundam o entorno do POÇO DO MATO, cantarola sem letra uma canção indecifrável aos ouvidos dos mortais.
Ela retira com cuidado os cipós que atrapalham seu caminho e segue sorrateira como uma cobra a dar o bote. No lado esquerdo um pedaço de pano no ombro, puído pelo tempo e no braço direito a famosa lata de manteiga que serviria para levar o liquido precioso para os patrões degustarem após a ceia matinal e para ajudar nos afazeres domésticos.
Negra Piedade brilha na sua cor lustrada pelos raios dourados do sol que banham aquela manhã, e ela num misto de magia faz parte de uma aquarela. O POÇO DO MATO tornou-se inatingível, distante, e a negra no viço da idade não percebe, o canto do pássaro é sua companhia, e a caminhada é longa, ela levanta a blusa, mostra seus seios rijos ao sol e enxuga o suor da testa.
Ao abrir os olhos o POÇO DO MATO surge como por encanto a sua frente e suas águas jorram como faíscas prateadas lavando o céu.
Piedade é só alegria, suas companheiras não apareceram e ela agradece por não ter que dividir espaço com ninguém em busca da água. A negra furtiva e exausta da caminhada observa se alguém se aproxima, seu suor é forte nas entranhas, seu cabelo carapinha, e os calos nos pés são esquecidos por um momento e ela se entrega aos sonhos, sentada ao redor do POÇO DO MATO encantado, dos Campos do Laguinho.
O Moço branco de camisa engomada, perfume francês estende-lhe suas mãos, e Piedade não recusa seu convite, levanta assanhada, arruma os cabelos, ensaia seu sorriso mais branco, balança as cadeiras, empina os seios num frenesi e exclama: sou toda sua Sinhô!
O moço ergue-a do solo, levita com ela naquele cenário e Piedade emudece, os pássaros continuam a cantar, as arvores deslizam suavemente ao balançar do vento e a brisa que sopra não a desperta de seu sonho irreal.
O POÇO DO MATO é a única testemunha da Negra Piedade e cúmplice em seu prazer carnal. As horas são intermináveis e preocupam os seus patrões, seus conhecidos e os vizinhos da negra Piedade.
Escurece, a Rasga Mortalha solta seu grito ensurdecedor, o céu tem muitas estrelas, o vento é frio e o Poço do Mato assustador, negra Piedade não voltou, os moleques correm com lamparinas pelo mato, cachorros servem de companhia a procura de negra Piedade, e nem sinal dela. A noticia se espalhou, o seu sumiço é comentado em todas as esquinas, e em todos os bairros, a população que mora na Favela e no Elesbão ficam estarrecidos.
As lavadeiras e as carregadeiras de água junto com as moças virgens são proibidas de irem ao Poço do Mato sozinhas.
Por que?
Negra Piedade foi ENCANTADA no Poço do Mato dos Campos do Laguinho.
“Olha sinhô,
Olha sinhô
No poço do Mato
Essa Negra se encantou...”
TRIBUTO A IZABEL MACHADO
(Minha mãe) + 23 julho de 1997
Isa, Isa, Izabel Bela...
Vindo de longe, de uma Ilha (paraense)
Quituteira era ela.
Izabel, Isa, Isa, Isa, Bela...
A mais bela do Igarapé das Mulheres
Com olhos de mel,
Com cheiro de terra
Barro aos seus pés,
Isa do barro, para a Terra.
Na terra fértil
Fertilizou
Se fincou.
Mãos calejadas pela labuta.
Isa mais bela, mulher tornou-se.
Mulher na fibra,
Mulher na raça,
Isa, Isa, Isa, bela...
Beleza só a dela,
Mãe, Pai, tudo era ela...
Energia
Que não se sabe,
De onde vinha e de onde tirou.
Porém, na raça,
Permanecia,
Suor e sangue brotou.
MINHA MÃE!
Meu néctar, minha seiva,
Minha selva, minha mina,
Eu era sua menina.
E Boneca,
Depois só NECA,
Me chamou,
E eu a contemplava,
Com admiração e respeito,
Herdei seus olhos,
Olhar de mel,
Sem fel...
E ela foi abelha rainha,
E seu olhar era profundo.
Oh! Isa, Isa, Bela
Minha Isa, minha sina
E eu sua menina.
Sua boneca, NECA...
Sino dos Anjos,
Aos meus ouvidos
Me ensinando
Os primeiros passos,
Me protegendo
Sob seus braços...
Minha guardiã, minha heroína.
Minha protetora,
Só era ela, Isa, Isa, Isa Bela...
Isa hoje está no mármore.
Seu mármore é belo,
E a conserva
No seu pensar,
Nas atitudes,
Sigo tua sina, o teu exemplo,
De perseverança e determinação
De uma mulher mais bela.
Minha Isa, Isa, Bela...
Isa de estrelas,
Isa do Sol,
Isa sofrida,
Isa suor,
Isa esperança,
Isa paixão.
Oh Senhor!
Eu te pedi uma MÃE,
E tu me deste uma MINA,
Senhor eu te pedi uma mão,
E tu me deste uma Guia.
Senhor eu só queria um colo,
E tu Senhor das estrelas...
Me deste uma constelação.
Senhor ela era bela...
Minha Isa, Isa, Bela...
Mas do que Isa, Senhor.
Ela era bela,
Mas do que Isa, bela,
Era um coração só.
Senhor jamais pensei em lhe perder.
Porem, chorei,
Quando sofria
Em fria cama
Sem me fitar.
Porem suas lagrimas
Quando rolavam
Eu compreendia e sabia
Que tu falavas no meu penar.
E meu peito ardia e se apertava,
Oh! MINHA MAE.
Isa, Isa, Isabel Bela
Minha Isa bela.
Pássaro solto
Na plenitude
Na imensidão
Hoje estas livre
Sem solidão, sem dor.
E voas alto, e nas estrelas
És a mais bela...
MINHA MAE,
Minha Isa, Isa, Isabel bela...
Minha Mãe serena,
Minha mão guia,
Minha esperança,
E teu sorriso soa no ar.
Es tu somente a mais bela, minha Isa
Isa, Isa, Isabel bela...
Oh! Senhor
Eu só te pedi uma MAE.
E tu reuniste em uma única mulher.
Todas as virtudes do universo.
Quão gotas de orvalho num paraíso.
Senhor!
Eu só queria uma Mãe.
E tu Senhor, me destes uma MINA,
E te perguntei baixinho entre soluços:
Senhor, o que faço para ser merecedora dessa dádiva?
Senhor será que mereci essa mulher em minha vida?
Senhor te peço piedade.
Pelos meus erros,
Pelos meus pecados,
Senhor não sou merecedora
Dos teus caprichos.
Porem gritarei ao mundo
Que fui contemplada por ti,
Por ser filha dessa nobre mulher
Chamada Isa, Isa, Isa Bela...
ISABEL MACHADO
MINHA MÃE!
Poema dedicado a Isabel Machado, publicado no Jornal Diário do Amapá no dia das Mães em 13 de maio de 2001.
ARCAISMOS DO LAGUINHO
Laguinho é meu lugar...
Matéria publicada no caderno de cultura do Jornal Diário do Amapá em: 25 de fevereiro de 2003.
O Bairro do Laguinho é um recanto primoroso do Amapá, possui figuras expressivas no âmbito cultural, folclóricas, boemias, caricatas, anônimas, enfim...
O Laguinho se imortalizou por falar de poesia, sem o compromisso formal da escrita. No Laguinho encontramos o negro soberbo da sua cor, o poeta que cria trovas ao acaso, o boêmio que amanhece fora de casa, e ainda na rua interpreta poemas criados na noite anterior debruçado sobre uma cadeira de um bar qualquer.
Arcaísmos do Laguinho é a rebusca por palavras em desuso, antigas, antiquadas... Falar de um Pitisqueiro que guardava preciosidades em suas gavetas de puro mogno, e que o verniz não saiu com o tempo, é salutar para a memória, abicorar passarinho no Poço do Mato, sem ser incomodado por horas a fio, quieto, calado, feito uma estatua, quase morto... Desmintir o pé numa pelada nos campos do Kouro e levar para a famosa puxadeira Maria Cunha, Sacaca, Crioulo Branco, ou outros famosos que davam jeito na rasgadura do pé com a rapidez de um mágico.
Ataia, ataia... Os caminhos sem demora para se chegar aos objetivos propostos, ir na retrete e deixar a porta aberta era mania de todo mundo, só fechavam a porta quando alguém aparecia de repente.
Alguém estava Cuira para saber das ultimas novidades que as fofocas espalhavam, tiriça curtida depois de um bom gole de açaí amassado pelas mãos da Tia Geralda, a canela de um moleque magro, intanguido, tuira de não tomar banho, ou quando tomava era pela metade...
A cabeça de prego que trazia doenças e ficava nas valas empossadas ao lado, era um perigo diziam as velhas amas.
Menino corre da frente dessa cintina, gritava a mãe de vez em quando, Eré, Eré para mandar embora os inconvenientes, rodilha quebra com facilidade, cuidado! Só como paçoca feita em mufari(pilão). O Laguinho será sempre um lugar de saudade, aconchego e muitos amigos...
UM ROSTO
Conto publicado no Jornal Diário do Amapá em, 23 de fevereiro de 2003.
O rosto que apareceu no espelho não era verdadeiro!
A moradora do bairro do Igarapé das Mulheres se espantou; tinham rugas que pareciam de verdade, o sorriso era enigmático e traiçoeiro. A luz que pairava sobre o vulto sem forma no reflexo do espelho era assustador.
A noticia correu como um campeonato de velocidade, primeiro a benzedeira foi chamada, depois cobriu com um pano o local, passou algo embebido em cachaça, fumou um cigarro barato, fez o sinal da cruz e a coisa não sumiu.
A casa foi construída na beira do Igarapé das Mulheres, seus pés permaneciam dentro das águas barrentas o ano todo; às vezes a madeira de lei ficava totalmente encoberta, outras vezes somente a metade, dizem as más línguas que foi a reza de um pescador sentimental que agourou a velha casa, comprada com trocas de muitas viagens de pescaria, alqueires de farinha, piracuí e algumas frutas que foram plantadas na parte mais alta da propriedade, que serviu de moeda para adquirir tal patrimônio.
A reza foi complementada com muita água benta deixada de presente pelo velho pároco que estimava a família.
No espelho o visitante ao olhar a imagem refletida, tinha a sensação de realmente se deparar com um ROSTO.
Se era uma imagem masculina, o padre que também foi chamado, não soube explicar. O que realmente aconteceu foi algo assustador; os antigos moradores sumiram de repente, como por encantamento de mãe do mato, a policia ainda tentou investigar o sumiço, porém, nada foi deixado como pista. Era um casal de velhos da Ilha do Marajó, não tinham filhos, viviam somente da pescaria, e um dia a noticia chegou: os pobres velhos sumiram, alguém achou que foi o Boto, outros que foram comidos por jacaré açu que rondavam o local, e nada.
O que se comentava pelos cantos, era que agora, com alguém morando na mesma casa, os antigos donos queriam voltar e assumir seu lugar.
O ROSTO no espelho ficou na lembrança de muitas pessoas, como Dona Maroca que só de lembrar ainda sente calafrios na espinha e se benze, dizendo: Cruz, credo, virgem Maria!