Lucy TACACAZEIRA
Por: Neca Machado, Junho 2005.
O tempo curvou o teu físico, e como uma árvore que se verga, lá estás tu nas tardes da centenária Macapá.
Com um pano na cabeça para cobrir teus cabelos que começam a embranquecer, debruças tua história sobre a mesa de iguarias.
O colorido de tuas vestes se confunde com o verde da velha praça, onde o herói ergue sua espada.
Oh! Nobre Lucy.
A cuia na mão, a colher na outra, o olhar atento sobre o prato de camarão, a pergunta comum: com pimenta ou sem pimenta freguês?
A tampa de alumínio, que brilha porque foi “ariada” com esmero, não cobre totalmente o prato de jambu. Sedução para as moscas.
O velho prato de vidro marrom sobre a tigela de esmalte esconde os camarões, não tão grandes, mas, bons pro consumo.
Assim é tua rotina.
O neto te acompanha nas tuas idas e vindas, segurando o carrinho de vasilhas, e lá vão os dois numa caminhada serena para matar a fome de quem quer fazer parte de tua estória lendária.
Lucy TACACAZEIRA.
Rotulada de braba, porque grita alto, porque não mede revolta quando quer desabafar.
Lucy que lembra dos amigos como se sua memória fosse um livro aberto, e quando a saudade bate, busca nas páginas do tempo, o que quer rebuscar.
Um vestido florido,
um lenço curtido,
uma cuia reluz,
um grito contido,
um beiço ardido,
um foco de luz,
Um olhar perdido
Um caminhar curvado
Um resmungado
Assim é Lucy...
Do tacacá,
da cocada,
do beijo de moça,
Do semblante negreiro
Das tardes mornas,
Da praça do padroeiro
Esta é a nossa LUCY....