SOBRE O NOVO LIVRO DE CORREIA
Poeticário revela o Ludicismo de Carlos Correia Santos
Novo livro de poemas do escritor paraense abre páginas para o jogo com os sons e significados das palavras
Palavras que se quebram e se reconstroem. Pedaços de fonemas que namoram com restos de sílabas somente para tentar reescrever o poético. Essa é a especial gramática de "Poeticário", novo livro de poemas do escritor paraense Carlos Correia Santos, editado pela RKE com projeto gráfico da artista plástica paraense Roberta Carvalho. Já no título, a obra é um convite para que o leitor mergulhe no instigante quebra-cabeça lírico que o autor propõe. "Exercito nesse livro o que eu batizo de Ludicismo, o direito poético de brincar com a escrita. Assumo o risco e o prazer de jogar com os léxicos sem o menor pudor".
Leia a seguir o que grandes autores paraenses escreverem sobre a nova obra de Correia:
NÃO HÁ CHAVE PARA O MISTÉRIO...
João de Jesus Paes Loureiro*1
(...) O livro Poeticário de Carlos Correia Santos é um livro de poesia. Poeticário, já no seu nome, estimula jogar-se ao gosto do poeta, com os algorítimos da palavra título. Poeticário. Poe. Ética. Rio. Poética. Poético. Icário! Logo em seguida, oferecendo como chave ao cofre simbólico de seu procedimento poético, numa epígrafe explicativa, diz sonhar o significado das palavras do dicionário. Quer dizer, não é na lógica da razão da língua que ele vai buscar o sentido das palavras da tribo dos seus poemas. É na imaginação. No sonho.
A poesia de Carlos Correia Santos, neste livro, usa as palavras ou a linguagem, como quem faz dobraduras de papel. Uma espécie de "origame" de palavras, dobrando as sílabas, vincando fonemas, fazendo brotar de palavras imprevistas palavras. Cada palavra como um cofre de palavras. Espelhos paralelos de significações e formas. Sabe contornar o risco daí decorrente, isto é, deixar que o prazer do jogo verbal se torne artifício. Mesmo que fossem artifícios de um artífice. O poeta sabe muito bem evitar esse risco. E também sabe que poesia se faz com palavras, é verdade, mas palavras carregadas de significação.
(...) Penso que a poesia é a encantaria da linguagem. O poeta é um pescador com o anzol do imaginário, sentado na várzea do devaneio. No rio da linguagem padrão ele mergulha a sua linha e vai buscar essas entidades submersas na língua, na cultura, na memória para torná-las a própria superfície sensível do rio-poesia-linguagem. No anzol pode vir uma imagem, um pedaço de palavra, um submarino sonho naufragado.
Em Poeticário há bons exemplos desses mergulhos na encantaria da linguagem. "Nada, nada que se compreenda" é um deles. Outro é "Blues". Aqui há desconcerto do mundo, da língua, do verso. O verbo concebido com pecado. Há uma espécie de neo-romantismo pós-moderno, o prazer da ironia, uma discreta picardia da instigação delicada.
Há, também, o gosto de jogar com a expressão, de surpreendê-la, de surpreender com ela. Não propriamente com trocadilhos. Talvez, pelo gosto do paradoxo (Desatina!, diz a rotina). Não é uma poesia que busque o vasto campo das significações da cultura ou da tradição técnica. Quer a brevidade, a transitoriedade das coisas, o instante eterno que passa ( Tod'Efêmero). Flexiona o verbo de modo inusitado e provocador de novas flexões. Violenta a língua padrão para enveredá-la no bosque do desvio da norma, a fim de poetizá-la. Busca o contraste, as inversões – da norma, da língua ou da significação ( Familiário). Domina o ritmo e joga com ilusórias dissonâncias, quando se pensa que vai cair no esperado. Muitas vezes sugere um poema hermético. Pura ilusão. O poema quando lido, relido, lido, se vai abrindo como as portas de um mistério ( Ecos de egos).
Todo poeta é um vidente da infância. Não como quem faz o caminho do retorno. Mas, aquele que leva a infância, instalando-a onde demarca seu reino de utopias. Ou então, buscando-a sempre no futuro. Não a infância como estado. A infância como liberdade de ser a de se incorporar no mundo como linguagem livre. Como afetividade aurática. Essa afetividade em plenitude da infância que enlaça o poeta ao mundo e que faz o estranhamento cativante do leitor com relação a ele. O poeta: um ser alado e leve, como queria Platão. Quer dizer: um homem adulto pesado e terrenal com a infância o tornando leve e alado.
Carlos Correia Santos é poeta. Preserva a dignidade viva e dinâmica da língua. Celebra sua energia sem a ela submeter-se. Como um amante a ela se submete enquanto a submete. Sabe acariciá-la no enlace devoto, mas, também, sabe dobrá-la quando a paixão de criar requer. Semelhante ao domador de uma égua selvagem, domina a língua pela cauda, para, ao mesmo tempo, cavalgá-la. Como poeta, já demonstra sua originalidade e quer ocupar o seu lugar distinto. O merecido lugar dos criadores, na mente e no coração dos que o lêem.
NAS DOBRADURAS DO POEMA
Alfredo Garcia*2
A chave para o entendimento deste livro de Carlos Correia Santos, Poeticário é dada, acertadamente a meu ver, pelo poeta João de Jesus Paes Loureiro: "A poesia de Carlos Correia Santos (...) usa as palavras ou a linguagem, como quem faz dobraduras de papel". Nesta linguagem-origami, o poeta paraense desdobra o vocabulário, recria formas e dá voz a outras: (...) Na verdade, usando de forma lúdica estas re-invenções da linguagem, Carlos Correia Santos propõe re-leituras do que já é fato e linguagem consumada, numa poematização do texto que se fazia cânone. É o poeta se utilizando da sua ferramenta-base, a palavra, para estruturar poemas que assemelham-se a jogos verbais (aliás, o que é a Poesia senão essa performance do lidar com o Verbo, na intransitividade da Vida?) (...) No fundo um tema único em toda a obra: a expressão do Ser pela palavra, a redenção deste em busca do que não sabe.
O LAR DO POETA
Salomão Larêdo*3
O lar do poeta é o povo. Carlos Correia Santos, poeta, sabe onde buscar a poesia para fazer o poema e versa-vice e trabalha com ferramenta de boa têmpera. Surge então "Poeticário" para o leitor apreciar nas horas da tarde, nas manhãs ensolaradas ou plúmbeas e se encantar com a liberdade que o texto inspira e fazer a necessária viagem imaginária, no ócio de que o homem e a mulher dos tempos pós modernos tanto precisam para alegrar a vida e distribuir amor e paz na contemplação do mundo novo de felicidade que os aguarda em cada esquina dos versos e anversos do artista das palavras, inventor de novas paisagens e de renovado momento, sempre profético, como deve ser todo poeta confessadamente poeta, como é o Carlos, que, com competência sagra e consagra este livro e seus poemas com a unção da própria poesia e que ela faça todo o bem que o sacramento propicia e a humanidade clama.
SOBRE CARLOS CORREIA SANTOS
Poeta, contista, cronista, dramaturgo e roteirista, Carlos Correia Santos tem feito da diversidade uma grande marca de sua carreira. É autor do premiado livro de poemas "O Baile dos Versos", obra que ganhou especial saudação da Academia Brasileira de Letras, em 1999. Como escritor na área de artes cênicas, coleciona importantes láureas regionais e nacionais, como o Prêmio IAP de Literatura Categoria Teatro (2004), o Prêmio Funarte de Dramaturgia (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil. Seus textos teatrais já ganharam diversas montagens e já foram apresentados em Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, São Paulo e Rio de Janeiro, dentre outras cidades. Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda, já assinaram direção de suas obras. No cinema, foi agraciado com o Prêmio do Edital Curta Criança do Ministério da Cultura. Também violinista e letrista, Correia é parceiro de importantes nomes da música nortista, como Nilson Chaves e Lucinha Bastos. Assina semanalmente contos infantis no suplemento para criança de um dos maiores jornais da região Norte. MBA em Jornalismo e Gestor e Produtor de Eventos Culturais, já coordenou diversos e bem sucedidos projetos de fomento à leitura na região Norte, como o "Café com Verso e Prosa", o "Estrada de Letras" e o Programa de Ações Preparatórias para a Feira Pan-Amazônica do Livro (de 2004 a 2006). É presidente da ONG Companhia Amazônica do Livro.
Alguns testemunhos sobre seu trabalho:
"É um grande criador de conflitos narrativos" (José Louzeiro , autor de clássicos da literatura brasileira, como "Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia")
"Carlos Correia Santos é pombo correio da poesia. Por isso tem a palavra poeta tatuada na palma da mão". ( Mano Melo, ator e poeta, fez parte do projeto Ver o Verso, ao lado de Pedro Bial).
"Um criador profundo, com forte, rara e inegável vocação para a dramaturgia (...) merece todo o apoio que lhe possa ser dado pelas entidades e pessoas interessadas na arte e na cultura do Brasil". ( Joaquim Assis, roteirista dos filmes "O Toque do Oboé" com Paulo Betti, "For All – O Trampolim da Vitória", com Betty Faria e José Wilker e "Villa-Lobos: Uma Vida de Paixão", com Antônio Fagundes e Marcos Palmeira)
"Uma vida dedica à literatura do nosso Pará" ( Olga Savary , poeta, contista, tradutora, organizadora de antologias e uma das introdutoras do hai-kai no Brasil)